Antonio Quinto

A Estética da Acreditação

A acreditação, como forma de avaliação externa da segurança e qualidade, constitui-se em um caminho seguro e confiável para a melhoria contínua das organizações de saúde. A eficácia do método provém da natureza voluntária, do caráter pedagógico e do entendimento que o aprimoramento efetiva-se por etapas e não por saltos, ou melhor, os saltos só acontecem a partir do momento em que se esgotam as possibilidades de uma etapa. Nesse aspecto, tem-se que ponderar o imperativo do cumprimento de padrões os quais dilatam as condições que levam os gestores e colaboradores a notarem coisas que antes não alcançavam e, consequentemente, incorporarem mais conhecimento, habilidade e atitude. O processo de melhoria, portanto, encerra um teor de generosidade já que o aperfeiçoamento organizacional essencialmente torna também melhor os seus dirigentes e colaboradores.

A dimensão estética da assistência nas organizações de saúde refere-se aos sentidos e valores que fundamentam as ações diagnósticas e terapêuticas em um contexto inter-relacional que atende o sentir, o pensar e o agir dos profissionais de saúde, enquanto os pacientes/clientes percebem a elevada consideração de todos que os atendem, ao mesmo tempo em que os dirigentes e colaboradores sentem-se recompensados com o que fazem.

A estética da acreditação (no sentido de percepção, sensação) pode ser dividida em três aspectos: ambiência, atitude dos gestores e colaboradores e metodologia do cuidado:

1)   Ambiência: o aspecto geral dos ambientes de espera e de atendimento, os odores, os sons, as texturas das paredes e dos pisos, os quadros, a orientação dada pela sinalização que facilita os deslocamentos internos, a disposição do mobiliaria, a iluminação, as áreas de conveniência, e assim por diante. Os distintos ambientes “transmitem” aos clientes/pacientes e colaboradores a facilidade de acesso aos espaços, preservação da privacidade, conforto e acolhimento sensível.

2)   Atitude dos dirigentes e colaboradores: dirigentes e colaboradores vestem-se de modo apropriado e ajudam-se mutuamente na execução das atividades orientadas para o bem estar dos clientes/pacientes. O zelo pela segurança dos clientes/pacientes, assim como de todos que trabalham na instituição, representa uma condição indispensável à prestação da assistência qualificada e realização do trabalho.

3)   Metodologia do Cuidado: dirigentes e colaboradores realizam suas atividades sempre concentrados nos clientes/pacientes, respeitando suas necessidades, preferências e valores pessoais. A prestação do atendimento multidisciplinar e seguro fazem com que haja uma atenção especial à manutenção preventiva dos equipamentos, ao cumprimento dos protocolos,  à qualificação dos materiais e medicamentos e outros insumos utilizados, assim como à judiciosa identificação de eventos adversos (assistenciais e gerenciais) com subsequente análise crítica e execução de medidas corretivas pertinentes. O trabalho em equipe representa o veículo através do qual se aprimora a confiança, o respeito, a compreensão, a cooperação, a comunicação, fortalecendo a interligação entre todos os que formam o ambiente de trabalho. Trata-se de uma estética que conjuga assistência segura e qualificada aos clientes/pacientes com o compromisso de sustentabilidade econômico-financeira.

As organizações de saúde que cumprem os padrões de acreditação exibem ambientes organizados, espaçosos e limpos que buscam reduzir o estresse e sustentar o efeito de tranquilidade tanto para os clientes/pacientes quanto para os colaboradores. Instalações intimidantes, locais barulhentos, desligados da natureza sobrepõem uma carga adicional para os que atendem e os que são atendidos. Os colaboradores, por sua vez, vestidos de maneira apropriada, receptivos e cordiais, despertam confiança e contribuem para o bem-estar de todos. O atendimento respeitoso aos clientes/pacientes em todos os momentos, desde a recepção até o local onde receberão os cuidados de saúde, representa um sinal de valorização das pessoas. Tudo isso, contudo, não se institui automaticamente. Essas qualificações solicitam esforço e dedicação dos dirigentes e colaboradores. Tempo, treinamento e o compromisso de identificar, analisar e avaliar as situações, com base em dados e informações, é o que conduz ao progressivo aperfeiçoamento dos serviços, produtos e processos e, consequentemente, a um novo estágio superior de desempenho organizacional.

Alguns estudos sobre organizações acreditadas têm salientado que os colaboradores se sentem incomodamente pressionados em suas atividades. Isso talvez advenha do fato que a segurança e a qualidade exigem, consecutivamente, vigilância constante e a incorporação de novos conhecimentos, disciplina e esmero na realização das atividades rotineiras. Como a maioria das organizações de saúde acha-se em um estágio de desenvolvimento distante do razoável, isso forçosamente mobiliza mais energia para alcançar um melhor desempenho. É tarefa dos gestores, não obstante, encontrar meios que amenizem esse estado de tensão, diminuindo o desgaste dos colaboradores e tornando as atividades mais agradáveis.

Quando se observa uma organização de saúde a partir da perspectiva da estética da segurança e qualidade, inevitavelmente vem à mente a existência de ações coerentes, de uma harmonia nas interações com as pessoas e os espaços, assim como a consistência nos processos assistenciais e gerenciais, e essas coisas implicam empenho, comprometimento e sensibilidade. O serviço excepcional – não extraordinário – dignifica os clientes/pacientes, colaboradores e dirigentes, além do que impele as organizações de saúde na direção de fazer o bem cada vez melhor.

Antonio Quinto

Médico psiquiatra, Mestre em Administração pela UFRGS, Especialista em Avaliação de Sistemas e Serviços de Saúde, Membro do Conselho Editorial da Revista de Administração em Saúde da Associação Paulista de Medicina. Fellow do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs). Avaliador Sênior do Instituto de Acreditação Hospitalar e Certificação em Saúde - IAHCS/ONA e professor convidado dos cursos de especialização do IAHCS/Fasaúde e da Faculdade Unimed, de Belo Horizonte (MG). Diretor de Provimento de Saúde do IPE-Saúde.

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