Antonio Quinto

Atendimento das Necessidades dos Pacientes, Melhoria Contínua da Qualidade e Inclusão dos Colaboradores

Sempre que se discute a implantação de um programa de gestão da qualidade surge o questionamento sobre a sua necessidade. Se os gestores consideram que suas organizações estão bem, por que deveriam submetê-las a um processo externo de avaliação da qualidade médico-assistencial? O senso comum indica que somente os que não estão bem precisam ser avaliados. A prática, contudo, mostra que nenhuma condição que alcança um determinado patamar de qualificação e segurança sustenta-se na ausência de um sistema externo de avaliação, o qual deve cumprir a função de verificar, de tempos em tempos, se determinados padrões de qualidade e segurança estão sendo cumpridos. É dentro desse contexto que se inserem os programas de acreditação, ou seja, eles se posicionam como marcos de referência para que organizações cumpram, mantenham e melhorem padrões de qualidade e segurança.

Nas organizações de saúde facilmente se identificam pelo menos dois aspectos que inibem a aplicação dos princípios da qualidade: a elevada auto-estima dos profissionais de saúde e a reputação institucional. No primeiro componente observa-se que os profissionais rotineiramente compartilham o sentimento de que prestam uma “boa” assistência, oferecem os melhores serviços e executam procedimentos com segurança. Esse tipo de posicionamento, em particular dos médicos, erige obstáculos que dificultam um julgamento objetivo da qualidade. Isso explica, em parte, a razão dos médicos pouco se envolverem com programas desse tipo. Seja como for, quando o arranjo organizacional é consistente e produtor de resultados positivos, os médicos naturalmente envolvem-se. Quanto ao segundo aspecto, nota-se que a reputação social que as organizações de saúde adquirem ao longo do tempo – que não necessariamente associa-se com bons serviços assistenciais – funciona como uma forma simples e direta da opinião pública qualificar os serviços de saúde. É comum, portanto, o público em geral classificar uma organização de saúde mais pela representatividade e influência que possui na comunidade, do que propriamente pela qualidade dos serviços prestados. A força dessa premissa é tão verdadeira que os gestores, ao terem suas organizações agraciadas com a acreditação, frequentemente se esquecem do esforço e tempo despendidos na preparação para chegarem a esse momento, e destacam que apenas confirmou-se o que já era sabido: que a organização presta serviços de saúde qualificados e seguros desde a sua fundação.

As organizações de saúde mais propensas a obterem retorno financeiro positivo são aqueles que conseguem simultaneamente executar três coisas: a) atender os interesses dos pacientes/clientes, b) investir na melhoria contínua da qualidade, c) incluir os colaboradores nos seus planos de desenvolvimento. Conjugar esses elementos, entretanto, exige sólido conhecimento de gestão, tempo e dedicação. Colocar o paciente em primeiro lugar (algo fácil de dizer, mas difícil de executar) conduz os gestores a preparar melhor os seus colaboradores. Desenvolver processos assistenciais e administrativos bem definidos e articulados, com o mínimo de desperdício, não só facilita o trabalho de todos, em particular dos médicos e enfermeiras, quanto contribui para uma maior eficácia das ações assistenciais e administrativas. Além do mais, processos assistenciais e administrativos precisos aumentam a confiabilidade de todos os interessados, que por sua vez contribui para um consistente reconhecimento técnico. Quanto à inclusão dos colaboradores nos planos de desenvolvimento institucional, tem-se apurado que colaboradores satisfeitos aumentam o grau de comprometimento com a satisfação dos pacientes/clientes, são menos propensos a acidentes de trabalho, apresentam baixa rotatividade, assim como elevam a produtividade e o ganho econômico real.

Para os gestores e conselhos de administração que descreem da utilidade dos programas de qualidade como contribuintes destacados para o fortalecimento de suas organizações, a literatura mais recente ressalta que há correlações sólidas entre qualidade, satisfação do cliente e retorno econômico. Além disso, as medidas de melhoria da qualidade e a satisfação dos colaboradores reforçam a reputação técnica e social. A reputação, por sua vez, melhora a percepção dos pacientes, o que pode contribuir para aumentar e criar um potencial superior em relação à negociação com as fontes pagadoras.

As organizações de saúde, de uma maneira geral, apresentam um amplo espaço para melhoria da qualidade dos cuidados e serviços. Apesar dos problemas relacionados com o desalinhamento das fontes pagadoras, que habitualmente são consideradas como fatores impeditivos, é possível, desejável e louvável unir esforços na tarefa de elevar a qualidade e a segurança no setor saúde. A beleza da qualidade nas organizações de saúde é que ela sempre começa e termina no melhor interesse dos pacientes.

Antonio Quinto

Médico psiquiatra, Mestre em Administração pela UFRGS, Especialista em Avaliação de Sistemas e Serviços de Saúde, Membro do Conselho Editorial da Revista de Administração em Saúde da Associação Paulista de Medicina. Fellow do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs). Avaliador Sênior do Instituto de Acreditação Hospitalar e Certificação em Saúde - IAHCS/ONA e professor convidado dos cursos de especialização do IAHCS/Fasaúde e da Faculdade Unimed, de Belo Horizonte (MG). Diretor de Provimento de Saúde do IPE-Saúde.

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