Antonio Quinto

Internacionalização do Sistema Brasileiro de Acreditação

O Sistema Brasileiro de Acreditação, ao integrar-se à Sociedade Internacional para a Qualidade em Cuidados de Saúde (ISQua), instituição que certifica mundialmente organizações acreditadoras, necessitou promover modificações tanto na metodologia quanto nos elementos constituintes do manual de acreditação. Essa mudança enquadra-se em duas categorias principais de melhoria:

a) Maior objetividade na estruturação dos requisitos dos padrões;

b) Mensuração com base na conformidade com os requisitos: a avaliação permite uma quantificação dos requisitos a partir de um percentual previamente estipulado.

A seguir são apresentadas as principais melhorias incorporadas ao Manual Brasileiro de Acreditação, versão 2018-2022.

Ajustes nos Fundamentos

Efetuou-se o apuro de dois fundamentos (gestão por processos e cuidado centrado no paciente) e se incluiu mais dois itens:

a) ética e transparência: condição implícita vinculada à formação do indivíduo com parâmetros de honestidade, decência e respeito a todos os públicos interessados.

b) natureza não prescritiva: ausência de recomendação sobre métodos, técnicas e ferramentas a serem escolhidas para alcançar os padrões estabelecidos. Esse conceito, embora aplicado desde o início do Sistema Brasileiro de Acreditação, não detinha o status de fundamento.

Ajustes na metodologia

As melhorias efetuadas na metodologia da acreditação nacional foram expressivas, destacando-se a aplicação do conceito quantitativo para o resultado da avaliação, mantendo-se, adicionalmente, a avaliação qualitativa.

Os padrões tornaram-se uma consequência do cumprimento percentual de requisitos. O propósito dessa medida foi reduzir a subjetividade, tal como já é em outros sistemas internacionais. O modelo anterior permitia a interpretação dos padrões e requisitos de acordo com a experiência e o interesse dos avaliadores e dos visitados. Conquanto a maioria das organizações visitadas não cumprisse integralmente os padrões, os avaliadores toleravam esses descumprimentos, às vezes de modo excessivo, o que influía no resultado final da visita de acreditação. Isso naturalmente decorria do grau de subjetividade que continha a avaliação, o qual criava um extenso leque de concessões e permitia aos avaliadores um elevado poder discricionário.

O quadro 1 expõe as principais melhorias ocorridas na metodologia de avaliação.

Diferenças essenciais entre a metodologia anterior e a atual_quinto

 

Os ajustes nas seções e subseções foram realizados a partir das observações de avaliadores do Sistema Brasileiro de Acreditação, sugestões de utilizadores do sistema e consulta pública.

O novo manual tornou-se mais objetivo. Os avaliadores e avaliados devem concentra-se no cumprimento dos requisitos, tendo em conta, de forma realista, que existe uma margem tecnicamente aceitável de não cumprimento, ou seja, o conceito utilizado no modelo anterior do “tudo ou nada” tornou-se sem sentido na metodologia atual.

Dois elementos são considerados na nova metodologia:

1 Caracterização do cumprimento dos requisitos

2 Quantificação do cumprimento dos requisitos

O cumprimento dos requisitos de um padrão se dá com base em um critério de graduação de conformidade (Quadro 2). Essa graduação, por sua vez, possibilita a quantificação percentual dos requisitos conformes, parcialmente conformes e não conformes (Quadro 3).

Grau de cumprimento dos requisitos do padrão específico_Quinto

 

O requisito marcado como Não Conforme (NC) deverá conter a descrição do elemento faltante no Relatório de Avaliação. Isso dará ao cliente/organização de saúde a oportunidade de saber, com exatidão, os requisitos não conformes (parcial ou totalmente).

O Quadro 3 apresenta o resultado da avaliação para a acreditação de acordo com a conformidade em relação aos requisitos do padrão.

Quinto3

 

Quando o percentual de requisitos marcados como Não Conforme ou Parcial Conforme for superior ao percentual estipulado, a instituição (no caso do Nível 1) não receberá o certificado de acreditação. Nesse caso, a diretoria será orientada a solicitar uma nova avaliação após o transcurso de um ano.

A metodologia da acreditação parte do princípio que as organizações de saúde, para serem acreditadas, não necessariamente precisam estar em total conformidade. Assim, pode-se observar que uma organização de saúde pode ser acreditada nas seguintes condições:

1 Nível 1: atender mais de 70% dos requisitos, ter menos de 20% parcialmente cumprido e 10% não cumprido.

2 Nível 2: atender mais de 80% dos requisitos do Nível 1, ter menos de 20% parcialmente cumprido e 0% não cumprido; atender mais de 70% dos requisitos do Nível 2, ter menos de 20% parcialmente cumprido e 10% não cumprido.

3 Nível 3: atender mais de 90% dos requisitos do Nível 1, ter menos de 10% parcialmente cumprido e 0% não cumprido; atender mais de 80% dos requisitos do Nível 2, ter menos de 20% parcialmente cumprido e 0% não cumprido; atender mais de 70% dos requisitos do Nível 3, ter menos de 20% parcialmente cumprido e 10% não cumprido.

Conclusão:

1 O cumprimento de requisitos e a sua quantificação é o método utilizado nos principais sistemas de acreditação no mundo. Nesse sentido, o Sistema Brasileiro de Acreditação coloca-se no mesmo patamar de outras metodologias de acreditação – Joint Commission, Canadense, Niaho e Sistema Australiano.

2 As organizações acreditadas possivelmente notarão que alguns requisitos demandarão mais esforço para serem atendidos, mas perceberão, por outro lado, que se reduz o grau de incerteza na interpretação do cumprimento dos mesmos.

A acreditação de organizações de saúde, em particular dos hospitais, encontra-se em um período de rápida expansão internacional. Provavelmente o próximo passo será a classificação dos hospitais (que de certa forma já se iniciou) e demais organizações de saúde, medida que terá desdobramentos econômico-financeiras.

Sempre haverá organizações de saúde excepcionais e outras abaixo de um nível aceitável de qualificação. O que se deseja é que a maioria possua os elementos necessários que permitam atender os pacientes/clientes com dignidade e segurança, ao mesmo tempo em que responda às necessidades e expectativas dos mesmos.

Agradecimentos

À Shailiny Merlino, Gerente de Educação da Organização Nacional de Acreditação (ONA), que gentilmente efetuou a leitura do texto e recomendou melhorias pertinentes.

 

5 Smits et al. Hospital accreditation: lessons from low-and middle-income countries. Globalization and Health 2014, 10:65. http://www.globalizationandhealth.com/content/10/1/65. Acessado em 12/mar/2018.

Antonio Quinto

Médico psiquiatra, Mestre em Administração pela UFRGS, Especialista em Avaliação de Sistemas e Serviços de Saúde, Membro do Conselho Editorial da Revista de Administração em Saúde da Associação Paulista de Medicina. Fellow do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs). Avaliador Sênior do Instituto de Acreditação Hospitalar e Certificação em Saúde - IAHCS/ONA e professor convidado dos cursos de especialização do IAHCS/Fasaúde e da Faculdade Unimed, de Belo Horizonte (MG). Diretor de Provimento de Saúde do IPE-Saúde.

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