Antonio Quinto

Melhoria na Espera em Sala de Recepção: Um Tópico de Excelência

O atraso no atendimento faz parte da rotina dos serviços de saúde e, usualmente considera-se um fenômeno natural. Todos parecem aceitar que os pacientes devem esperar (pacientemente) pelos cuidados. Há espera para marcar consultas, exames e procedimentos cirúrgicos; há espera para ser atendido no local de atendimento; há espera quando um médico encaminha para outro serviço ou outro especialista, e assim por diante. É, portanto, uma questão onipresente, em maior ou menor proporção, no mundo dos serviços de saúde.

A rotina do agendamento (hora marcada) tem sido aplicada tanto em serviços públicos quanto privados, porém nem um nem outro tem conseguido alterar expressivamente a vivência de demora prolongada por parte dos pacientes/clientes. A regra, portanto, é o atraso, embora a marcação prévia sinalize para os pacientes/clientes que serão atendidos dentro do horário estabelecido (o que é exceção).

Como o atraso não corresponde a um problema médico-assistencial, pouco ou nada pode-se esperar da equipe de saúde, embora ela seja parte da solução. Trata-se de um problema de gestão. Como gerenciar tempos entre as diversas etapas envolvidas no ato de cuidar dos pacientes/clientes, inclusive os atrasos desses?

A ciência da melhoria ensina que um dos parâmetros de avaliação da qualidade dos serviços é a satisfação dos pacientes/clientes, e essa relaciona-se com o tempo de espera.

O gráfico 1 mostra o comportamento inverso entre espera e satisfação: quanto maior o tempo de espera, menor o grau de satisfação dos pacientes. Até 15 minutos de espera o grau de satisfação mantém-se no nível dos 90%, período que aliás é considerado como apropriado. Acima de 30 minutos de espera, contudo, o grau de satisfação começa a diminuir rapidamente.

Quando se discute medidas para reduzir ou eliminar o atraso no atendimento de saúde, frequentemente os médicos ressaltam que os pacientes também atrasam. De fato, isso representa mais uma variável a ser considerada nesse complexo problema.

Eliminar esperas ou torná-las toleráveis aos pacientes/clientes e familiares exige ações de melhoria em todo o serviço, e não apenas em um ou dois pontos. Atrasos prolongados sugerem, dentre outros aspectos, o seguinte:

a) serviços deficientemente organizados – ineficiências operacionais, falta de coordenação entre todos os envolvidos, escasso planejamento;

b) número insuficiente de profissionais em relação à demanda;

c) médicos que individualmente gerenciam a marcação de consultas, exames e procedimentos cirúrgicos.

As demoras não apenas ocasionam insatisfação para os pacientes/clientes como expressam falhas e deficiências organizacionais que produzem desperdício de tempo e outros recursos.

Gráfico 1: Relação entre o grau de satisfação dos pacientes e o tempo de espera despendido em um serviço de saúde.

grafico

Fonte: Press Ganey Associates, 2013.

Reduzir o tempo de espera nos serviços de saúde significa, em termos de resultados, pelo menos duas coisas:

Aumentar a produtividade dos serviços de saúde através da correção de falhas e deficiências;

Diminuir ou eliminar o incômodo desnecessário dos pacientes/clientes e familiares, aumentando o grau de satisfação destes.

Três Iniciativas para o Gerenciamento dos Tempos de Espera

1) Comunicar o tempo de espera aos pacientes/clientes e familiares:

Dando transparência sobre o tempo de espera: os pacientes, ao chegarem no serviço, devem ser informados sobre o tempo que será despendido e, se possível, mantê-los informados ao longo da espera;

Visitando periodicamente a sala de recepção: um membro da equipe deve passar na recepção a cada 15 minutos nas clínicas, e a cada 30 minutos em Serviços de Emergência, para conhecer os pacientes/clientes e assegurar-lhes conforto, fornecer atualizações e colocar a sala em ordem;

Recuperação do serviço: quando os pacientes/clientes estiverem esperando mais do que o tempo estimado, é conveniente pedir desculpas pelo atraso e, se necessário, oferecer outro horário.

2) Melhorar a percepção do tempo de espera:

Substituir a denominação Sala de Espera por “Sala de Recepção”;

Decorar o ambiente de forma acolhedora, incluindo iluminação sem brilho, música suave, bebidas (água, café) e, se for conveniente, até um mini lanche;

Manter o ambiente limpo;

Ajustar a temperatura da sala (a mais confortável é na faixa de 23ºC);

Prover revistas atuais, programas familiares de TV, Internet sem fio;

Fornecer caneta e papel para os pacientes/clientes tomarem notas.

3) Efetuar análise crítica das causas do tempo de espera:

Identificar e medir o tempo de espera real, da chegada à liberação do paciente;

Examinar como os pacientes percebem os tempos de espera através de pesquisa;

Identificar sistemas e processos que estejam contribuindo para os atrasos;

Implantar planos de ação com medidas que contribuam para a redução dos atrasos;

Avaliar periodicamente os atrasos.

Há um real desnível entre a excelência médico-assistencial e o atendimento que antecede aos cuidados propriamente ditos. Isso manifesta-se em diversos momentos, particularmente no atraso prolongado nas recepções. Há, portanto, um espaço de melhoria para reduzir os tempos de espera.

Serviços de excelência vigiam atrasos excessivos e procuram reduzi-los, porquanto reconhecem que a satisfação dos pacientes/clientes é um dos fundamentos essenciais do cuidado qualificado e seguro.

Antonio Quinto

Médico psiquiatra, Mestre em Administração pela UFRGS, Especialista em Avaliação de Sistemas e Serviços de Saúde, Membro do Conselho Editorial da Revista de Administração em Saúde da Associação Paulista de Medicina. Fellow do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs). Avaliador Sênior do Instituto de Acreditação Hospitalar e Certificação em Saúde - IAHCS/ONA e professor convidado dos cursos de especialização do IAHCS/Fasaúde e da Faculdade Unimed, de Belo Horizonte (MG). Diretor de Provimento de Saúde do IPE-Saúde.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo