Antonio Quinto

Gestores e Interpretações sobre a Acreditação

Se a acreditação é uma maneira segura de ordenar e melhorar a gestão das organizações de saúde, por que os gestores manifestam-se tão reservados em ingressar neste processo?

Existem algumas hipóteses plausíveis. A primeira considera que a acreditação não agrega valor às atividades organizacionais; a segunda conjetura que se constitui em uma metodologia que não avalia apropriadamente a complexidade das organizações de saúde; a terceira classifica como sinônimo de “certificado” dentre tantos existentes no mercado; a quarta supõe a acreditação como um modismo.

1)   Acreditação não agrega valor às atividades organizacionais

A acreditação contribuiria pouco ou nada para a consistência dos processos e resultados assistenciais e administrativos. Seria apenas uma mensuração genérica sem impacto expressivo sobre as organizações como um todo, e, portanto, um desperdício de recursos.

Evidência: a acreditação encoraja os gestores a esforçarem-se para que suas organizações atinjam padrões cada vez mais elevados, através da aplicação dos princípios da melhoria contínua da qualidade. Isso tem implicações assistenciais e econômico-financeiras positivas.

2)   Acreditação não avalia apropriadamente a complexidade das organizações de saúde

A acreditação exigiria muito e ofereceria pouco. Objetivamente restaria o aval externo de destaque à imagem institucional que usualmente já se encontra difundida e consolidada. Logo o ganho institucional seria pífio.

Evidência: os padrões dos programas de acreditação são elaborados tendo em conta três domínios: estrutura, processos e resultados. Consiste, portanto, de uma avaliação bastante ampla que abarca desde pessoas, instalações, equipamentos, materiais, medicamentos e informações, passando pelas atividades de processamento, e chegando aos resultados assistenciais e administrativos, adicionado da articulação com o público em geral e concorrentes do setor. Isso, do ponto de vista prático, oferece subsídios para a tomada de decisões com maior possibilidade de êxito, seja pelo impedimento/redução de prejuízos, seja pelo aproveitamento/ampliação das oportunidades.

3)   Acreditação como sinônimo de um certificado

Considerar a acreditação exclusivamente como um certificado é uma interpretação tola que por vezes conduz alguns gestores à ideia de que poderiam “comprá-la” e receber, em curto espaço de tempo, esse “mérito”. Concebem-na como uma distinção sem engajamento com a segurança e a qualidade da gestão. Essa atitude, aliás, distancia-se do propósito da acreditação que parte do princípio que deve basicamente existir retidão nos gestores, avaliadores e instituições acreditadoras.

Evidência: A acreditação será tanto mais valorizada quanto mais remota for sua utilização no sentido de ludibriar clientes/pacientes e seus familiares, colaboradores, proprietários e comunidade em geral. Ela encerra um compromisso de melhoria da segurança e qualidade dos serviços e dos cuidados. Ela contribui para o progresso do nível de desempenho existente para um nível mais elevado, sem dar tréguas à complacência e aceitação de falhas que possam prejudicar a todos, em particular os clientes/pacientes.

4)   Acreditação como uma moda passageira

A acreditação seria um modismo e, como tal, tendente a desaparecer do cenário das organizações de saúde.

Evidência: a acreditação encontra-se implantada em cerca de 80 países. Lutar contra essa realidade é uma batalha cara e perdida. Quanto mais os gestores demorarem em adotar a acreditação como instrumento de gestão, mais esforço e tempo despenderão para cumprir os padrões exigidos, uma vez que forçosamente a aplicação da metodologia implica em conseguir um determinado grau de maturidade organizacional, e isso demanda tempo.

A acreditação precisa ser entendida como uma forma de fazer o bem para os clientes/pacientes e seus familiares, colaboradores, proprietários e comunidade em geral. Os gestores experientes sabem que o objetivo econômico-financeiro é imprescindível, mas não o bastante para que as organizações perdurem. É preciso um sentido de valor mais abrangente, e isso pressupõe a consideração do aspecto humano e do maior benefício cabível que possa ser entregue a todos os interessados, em particular os clientes/pacientes e seus familiares. Nesse aspecto talvez resida a maior diferença entre as organizações de saúde e empresas de outras áreas, onde os serviços são prestados por pessoas para pessoas física e emocionalmente vulneráveis, e isso requer uma mistura de razão, sensibilidade e delicadeza.

Os gestores precisam discernir que a acreditação não é para as suas organizações, mas para os seus clientes. É uma forma tangível de demonstrar que amam o que fazem, que se encontram continuamente envolvidos na busca de atitudes e formas gerenciais que elevem a segurança e a qualidade dos serviços e cuidados, orientados pelo intenso comprometimento com as necessidades, preferências e valores dos clientes/pacientes e seus familiares.

Antonio Quinto

Médico psiquiatra, Mestre em Administração pela UFRGS, Especialista em Avaliação de Sistemas e Serviços de Saúde, Membro do Conselho Editorial da Revista de Administração em Saúde da Associação Paulista de Medicina. Fellow do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs). Avaliador Sênior do Instituto de Acreditação Hospitalar e Certificação em Saúde - IAHCS/ONA e professor convidado dos cursos de especialização do IAHCS/Fasaúde e da Faculdade Unimed, de Belo Horizonte (MG). Diretor de Provimento de Saúde do IPE-Saúde.

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