Antonio Quinto

Painel de Gestão à Vista como Medida de Transparência nas Organizações de Saúde

Os gestores de organizações de saúde, em particular de hospitais e clínicas especializadas, receiam que os colaboradores e, em maior extensão, pacientes e familiares, obtenham acesso aos dados de desempenho tanto administrativos quanto assistenciais. Aliás, por conta disso, ambos são mantidos em segredo com base na suposição de que a exposição dos mesmos colocaria em risco a estabilidade da organização. O fato é que tanto os colaboradores quanto os pacientes e familiares, não tendo acesso a dados de desempenho, “inventam”. A razão para isso é que as pessoas necessitam de dados e fatos para construir opiniões sobre a realidade imediata, e quando não os tem, imaginam a partir de fragmentos percebidos no cotidiano. A falta de transparência, portanto, seja em organizações privadas ou públicas, produz dois eventos indesejáveis: a disseminação de informações inverídicas e o descompromisso com os resultados individuais dos serviços e das organizações como um todo.

Apenas os gestores persuadidos da necessidade de elevar a qualidade e a segurança nas suas organizações instituem as bases para que o desempenho seja explicitado, de tal sorte que todos obtenham acesso a dados essenciais que possibilitam uma elaboração em perspectiva de como se encontra um serviço ou a organização como um todo, e o que é necessário fazer para corrigir e melhorar.

Um dos instrumentos utilizados para a exposição de dados sobre produção, qualidade e segurança é o Quadro de Gestão à Vista. Trata-se de um mecanismo eficaz, sustentado pela ciência da melhoria contínua, que apresenta indiscutível correlação direta com a qualidade e segurança dos serviços.

O Quadro de Gestão à Vista viabiliza, no mínimo, duas condições:

  1. Um ambiente em que as pessoas se sentem confortáveis em conversar sobre dados do cotidiano e tomar decisões com base neles, concentrando-se em resultados.
  2. Uma maior consciência sobre o desempenho dos diversos serviços e da organização como um todo.

Exposição de dados de desempenho para os colaboradores

Os colaboradores precisam ter acesso fácil e rápido aos dados que se relacionam com o trabalho que realizam. Por exemplo, conhecer a produção assistencial, os custos relacionados com a prestação dos serviços, a taxa de infecção hospitalar, dados relativos aos recursos humanos e a experiência dos pacientes, entre outras. Esses e outros dados permitem discussões com base em fatos e não em adivinhação ou peculiar experiência, o que favorece o desenvolvimento de soluções mais apropriadas às questões abordadas.

Comunicação de dados de desempenho aos pacientes e público em geral

Pacientes e familiares, assim como o público em geral possuem curiosidade sobre os resultados que as organizações de saúde apresentam. Assim, expor dados pertinentes que se relacionem com suas necessidades é uma forma de fortalecer os vínculos e contribuir para o aprimoramento dos serviços prestados.

Os gestores de organizações de saúde, ao disponibilizarem dados de desempenho, devem orientar-se pelos seguintes princípios:

1) assumir a responsabilidade pelos pacientes, suas famílias e comunidades que servem: proporcionar dados de desempenho representa uma declaração de respeito e consideração pelos diversos públicos interessados, em especial os pacientes e familiares.

2) reunir dados relevantes em um quadro: todos conhecerão a produção assistencial, a taxa de infecção, a taxa de quedas, o índice de lesões por pressão, a taxa de satisfação dos pacientes, e assim por diante. Isso cria nos serviços uma energia mobilizadora no sentido de corrigir e melhorar o desempenho. Há, de certa forma, um apelo ao orgulho dos colaboradores que via de regra respondem com mais dedicação e apreço aos serviços que dependem deles.

3) desenvolver uma narrativa de resultados: Expor dados sobre vários aspectos das organizações de saúde, colocados em um mesmo lugar, alarga o senso crítico dos colaboradores e facilita a discussão entre os diversos segmentos sobre os resultados (bons, ruins ou inalterados ao longo de um determinado espaço de tempo).

Conquanto a maioria dos gestores das organizações de saúde seja conservador em exibir dados sobre desempenho, somente aqueles que valorizam essa função encontram-se em processo consistente de melhoria e crescimento. Ou seja, o conhecimento sistemático de alguns dados-chave de desempenho, tanto administrativos quanto assistenciais, por parte de grupos interessados, possui a força-motriz de impulsionar as organizações de saúde para um patamar mais elevado de maturidade organizacional, o que origina benéficos para pacientes, colaboradores, organizações e a comunidade servida.

Antonio Quinto

Médico psiquiatra, Mestre em Administração pela UFRGS, Especialista em Avaliação de Sistemas e Serviços de Saúde, Membro do Conselho Editorial da Revista de Administração em Saúde da Associação Paulista de Medicina. Fellow do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs). Avaliador Sênior do Instituto de Acreditação Hospitalar e Certificação em Saúde - IAHCS/ONA e professor convidado dos cursos de especialização do IAHCS/Fasaúde e da Faculdade Unimed, de Belo Horizonte (MG). Diretor de Provimento de Saúde do IPE-Saúde.

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