Exoesqueleto de alta tecnologia será lançado na abertura da Copa do Mundo
Um grande passo tecnológico feito pela medicina fará a abertura da Copa do Mundo no Brasil, no dia 12 de junho. O pontapé inicial da partida será dado por um brasileiro paraplégico. Graças ao projeto Walk Again (caminhar de novo, em tradução livre), ele estará vestindo um exoesqueleto que o permitirá andar.
O feito só será possível graças ao trabalho do neurocientista paulistano Miguel Nicolelis, da Universidade de Duke (EUA), que comanda uma equipe de cerca de cem cientistas norte-americanos, europeus e brasileiros no projeto, desenvolvido em parceria entre a universidade norte-americana Duke e instituições da Suíça, da Alemanha e do Brasil.
Entre os brasileiros envolvidos está Régis Kopper, gaúcho de Porto Alegre, Diretor da Duke immersive Virtual Environment (DiVE), responsável pelo desenvolvimento do sistema de treinamento dos pacientes utilizando a realidade virtual, que possibilita o controle dos comandos cerebrais que movimentam o exoesqueleto. “Essa é uma parte essencial, tanto para o sistema aprender a identificar as ondas cerebrais do paciente, como para o paciente aprender a modular os comandos para que tenham consistência para ser identificado pelo sistema”, explicou, em entrevista ao portal Setor Saúde.
O exoesqueleto é uma estrutura que envolve o membro paralisado do usuário – no caso do paraplégico, as pernas – e se movimenta a partir de comandos dados pelo próprio cérebro da pessoa. Ele será apresentado ao mundo antes do jogo entre Brasil e Croácia, em São Paulo. “A equipe tem trabalhado incansavelmente para que o projeto seja demonstrado em um evento tão importante e visível”, destacou.
Régis Kopper revelou que “em linhas gerais, o sistema opera com uma combinação de comandos cerebrais e neuromotores e estímulos táteis. O sistema é para locomoção e obedece a mesma lógica que usamos para caminhar. Quando caminhamos, não estamos constantemente pensando em cada passo que daremos. Ao contrário, pensamos no objetivo, seja ele iniciar o movimento, parar o movimento, virar, chutar, etc. O sistema utiliza, assim, uma combinação de comandos cerebrais com movimentos autônomos do exoesqueleto. Outra parte muito importante do projeto é o estímulo tátil. Quando caminhamos, estamos sempre avaliando o que chamamos de feedback loop, que é um ciclo de controle e estímulo que nos possibilita caminhar e não cair”.
O especialista explicou, ainda, que em pessoas com movimentos irrestritos, tanto o controle como o estímulo se dão nos membros inferiores. As pernas se movem e a pessoa sente o pé pisando no chão, do calcanhar aos dedos. “Como paraplégicos não tem sensação tátil nos membros inferiores, a equipe do projeto desenvolveu a chamada pele artificial, que é um conjunto de sensores que capta a pressão de cada passo. Essa pressão, então, é transformada em estímulo tátil que é transferido para o paciente nos antebraços, através de ondas vibratórias. Com o treinamento e a prática, os pacientes passam a incorporar o conjunto comando nas pernas-estímulo nos braços como um único conjunto e passam a sentir os pés pisarem no chão. Isso é importantíssimo para que o equilíbrio seja mantido”, conclui.
O projeto Walk Again ainda está no início. Recentemente, o neurocientista Miguel Nicolelis publicou o primeiro vídeo do exoesqueleto (veja aqui), mas sem pacientes “vestindo” o equipamento. A grande estreia será na Copa do Mundo, quinta, dia 12.



